segunda-feira, 16 de março de 2020

CORONAVIRUS


CORONAVIRUS

No fim desta epidemia far-se-ão as contas, e eventualmente vai-se aprender muito. Digo eventualmente porque o ser humano é estranho e pleno de ambivalências. O mais provável é que tudo se esqueça, e que se volte à velha e degradada rotina do pré corona.


Em primeiro lugar a solidariedade. Hoje todo o mundo entoa hinos ao pessoal da saúde, e por todo o mundo surgem exemplos fascinantes de voluntariado. Na verdade, fora de qualquer crise, esses mesmos voluntários já existiam e o seu percurso de vida em nada se alterou. Limitaram-se a ser o que sempre foram: profundamente altruístas para com o seu semelhante e para com o planeta. Os outros, a imensa maioria limita-se a aplaudir como sempre fizeram, desde que isso lhes dê alguma notoriedade e possam aparecer nas redes sociais, liderando vanguardismos de caracter mais que duvidoso, e espalhando as “fake news” do costume. Esta é a primeira lição a tirar. Após a crise, aproveitem e mudem o vosso estilo de vida e a vossa maneira de pensar. Sejam cidadãos cooperantes, responsáveis e não peçam nada em troca, nem se tornem visíveis. Aprendam com cubanos e chineses, esses “malditos comunistas” que na hora da verdade estão sempre presentes e solidários. Lembrem aos brasileiros neste momento difícil, que o seu presidente eleito, mandou embora uma legião de médicos cubanos, que trabalhavam nas áreas em que os seus colegas brasileiros não queriam. Lembrem a esse idiota, quantas pessoas nesse Brasil ficaram de repente sem assistência. Lembrem os responsáveis, pelo tremendo aumento de mortalidade infantil nessas mesmas áreas, ainda que seja só para memória futura.


Em segundo lugar as alterações climáticas. Para quem está atento, esta epidemia já fez mais pela mudança climática, que todos os povos juntos nos últimos 50 anos. A redução dos níveis de poluição é absolutamente admirável. Talvez gente como Trump ou Bolsonaro tenham de engolir a quantidade enorme de asneiras que vêm produzindo ao longo dos tempos. Talvez ainda estejamos a tempo de salvar a Amazónia, que na verdade não é apenas dos brasileiros, muito menos daqueles brasileiros que a têm sistematicamente vindo a destruir. Talvez no fim disto tudo, se consiga uma nova ordem mundial no capítulo do clima. Talvez os países comecem a acreditar que o futuro está fundamentalmente no recurso a energias limpas. Mas cabe-nos a nós como povo forçar estas mudanças.


A maneira como os diferentes povos enfrentam esta epidemia diz muito do sistema político de cada região. Se olharmos para a Europa, os sistemas de saúde são abrangentes, na maioria estatais e apesar da solidariedade, são sempre os estados que arcam com a responsabilidade maior dos problemas. Este tipo de estado social, faz parte de um quadro civilizacional evoluído, onde as liberdades, direitos e garantias estão em grande parte assegurados. Ao olhar para o outro lado do Atlantico, vemos um Presidente a anunciar com grande pompa e nenhuma circunstância, que o diagnóstico da doença é grátis.


Nos EUA, o sistema de saúde digno de um estado social prácticamente não existe e o que existe serve bastante mal a classe mais desfavorecida. A preocupação de qualquer família de nível médio prende-se habitualmente com 3 coisas: bom seguro dentário, robustos seguros de saúde e amealhar para mandar os filhos estudar. Em outros países das Américas acontece o mesmo. Se calhar está na altura de pensarem que o famoso, maravilhoso “way of life” é apenas mais uma miragem de um sistema económico que vai acabar por falir. A própria economia, tão baseada no livre empreendedorismo, está hoje dominada por monopólios que combatem ferozmente esse livre empreendedorismo. São degradantes as imagens que nos chegam da classe de pobres e dos que estão abaixo do limiar de pobreza, que existem nos EUA. Como é criminoso o que se está a passar com o problema da habitação. Leiam um livro sobre o assunto, publicado recentemente e que se chama “ os destruidores de lares” (homewreckers – Aaron Glantz – publicado na Amazon). Vão perceber que o núcleo duro do governo, tem vindo a enriquecer de uma forma vertiginosa, usando e destruindo até às fundações o tal dito “way of life”. A acrescentar, os milhares de famílias desalojadas, na maior parte das vezes em bairros inteiros é de etnia afro.


Mas, no final vai haver vacinas, com maior ou menor dificuldade vai-se ultrapassar a crise, durante dois dias vão adorar os heróis desta guerra, e todos ou quase todos voltarão à sua vidinha triste nas redes sociais, esquecendo que por um tempo o coronavírus, lhes veio proporcionar uma vida familiar há tanto tempo esquecida. Talvez até finalmente muita gente tenha conhecido os seus filhos e familiares mais próximos. Tavez uma percentagem, ainda que pequena aproveite e mude. Isso fará toda a diferença.


Eventualmente, haverá perguntas que ficarão sem resposta. Eventualmente saber-se-á as origens reais desta epidemia. Eventualmente virá a saber-se quem ganhou com este desastre. De uma coisa estou certo. No final das contas, nada mais será igual ao que já foi. A guerra está aí e vai ser preciso o envolvimento de cada um de nós. Eventualmente do lado certo da barricada.

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