Amazónia
brasileira registou este ano o maior número de incêndios desde 2010
A Amazónia brasileira registou, entre 01 de
janeiro e 09 de setembro deste ano, 56.425 focos de incêndio, o maior número
para o período desde 2010, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) do Brasil. Trata-se de um crescimento de cerca de 6% em
relação ao mesmo período de 2019, quando se contabilizaram 53.023 incêndios, e quando as imagens
das chamas naquela que é a maior floresta tropical do planeta circularam pelo
mundo e geraram indignação.
A Amazónia brasileira não ardia tanto desde 2010, quando o Inpe, um órgão
governamental, registou 72.946 fogos na região. Os dados do órgão contradizem o
atual executivo brasileiro, liderado pelo Presidente Jair Bolsonaro, que tem
feito campanha negando que a Amazónia esteja a arder. Exemplo disso é um vídeo
divulgado esta semana pelo Governo, que diz que o "Brasil é o país que
mais preserva as suas florestas nativas no mundo".
"Essas queimadas na Amazónia são culturais e de pequena
proporção", indica o vídeo difundido pelo Governo, um argumento que tem
sido recusado por ambientalistas e vários observadores. O vídeo, produzido pela
Associação de Criadores do Pará (AcriPará), um grupo formado por fazendeiros
produtores de gado, foi divulgado na quarta-feira à noite nas contas da rede
social Twitter do vice-presidente brasileiro e chefe do Conselho Nacional da
Amazónia Legal, Hamilton Mourão, e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo
Salles.
"De que lado você está? De quem preserva de verdade ou de quem
manipula os seus sentimentos? O Brasil é o país que mais preserva as suas
florestas nativas no mundo. Essa é a verdade. Nós cuidamos!", escreveu
Mourão na mensagem que acompanha o material audiovisual.
"Recebi este vídeo, a Amazónia não está queimando", indicou por
sua vez Salles, ao publicar o mesmo conteúdo.
No início do mês, a Amnistia Internacional alertou para o "número
alarmante" de novos incêndios que lavram na Amazónia brasileira, acusando
as autoridades do país de não protegerem a terra e os direitos humanos naquela
floresta tropical. A organização não-governamental (ONG) destacou ainda que a
desflorestação na região aumentou 34,5% entre agosto de 2019 e julho de 2020 em
comparação com o mesmo período de 2018 e 2019, destruindo uma área total de
9.205 quilómetros quadrados. Parte dos incêndios na região amazónica costumam
ser iniciados intencionalmente por grileiros, indivíduos que tomam posse de
terras ilegalmente e desflorestam a área para criar pastagens.
A pecuária é a principal causa de ocupação ilegal de terras em reservas e
territórios indígenas na Amazónia brasileira, alimentando o desflorestação e
afetando os direitos dos povos indígenas e residentes nativos.
No total, 63% da área desflorestada na Amazónia, de 1988 a 2014, tornou-se
pasto para gado, numa área cinco vezes maior que Portugal, segundo um relatório
publicado pela Amnistia Internacional no ano passado. A Amazónia é a maior
floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área
do planeta, com cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados, e inclui
territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana,
Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).
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