"Teremos alimentos para todos em 2050. A questão
é saber se eles serão distribuídos"
Ria Hulsman, gerente regional para América Latina da Universidade de
Wageningen, veio ao Brasil em janeiro para participar do seminário Fruto (Foto:
Leandro Martins/Fruto )
A população mundial deverá ser de
quase 10 bilhões de pessoas em 2050. Para alimentar tanta gente,
a produção de alimentos terá que aumentar 70%, segundo
a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A
grande questão é: conseguiremos atingir essa marca? Ria Hulsman, gerente
regional para América Latina e Caribe da universidade holandesa de Wageningen,
acredita que sim. “Nós já estamos produzindo muita comida e aumentando um pouco
poderíamos alimentar todo mundo. Mas não é apenas uma questão técnica. É também
política”.
Ria conversou com Época
NEGÓCIOS e falou sobre os desafios de alimentar a população
mundial, como serão as fazendas do futuro e revelou sua grande preocupação.
"Estou muito preocupada com a situação na África, onde a população está
crescendo muito rapidamente, a terra está degradada e os efeitos das mudanças
climáticas são muito intensos. Lá haverá falta de comida. Em outras partes do
mundo, não. Então, teremos comida o suficiente, mas não no lugar certo".
Estamos trabalhando na velocidade
necessária para evitar a falta de alimentos em 2050?
Podemos olhar para essa questão com focos diferentes. Pensando tecnicamente,
nós já estamos produzindo muita comida e aumentando um pouco poderíamos
alimentar todo mundo. Mas não é apenas uma questão técnica. É também política,
de economia e poder. Todos esses fatores resultam em um problema de má
distribuição e influenciam nessa missão de alimentar o mundo em 2050.
O Brasil é protagonista para atender a
demanda mundial por alimentos e terá que aumentar sua produção em 40%. Você tem
visto trabalhos importantes acontecendo por aqui nesse sentido?
Sim, há alguns bons exemplos no Brasil de como você pode recuperar áreas
degradas. Acho o trabalho da Embrapa muito importante. Essa organização tem
feito muitas pesquisas em diversas partes do Brasil, inclusive, com
fazendeiros. Além disso, vejo que aqui vocês estão cultivando alimentos em
algumas áreas das cidades. São Paulo, por exemplo, é muito verde. Quando dizem
que 12 milhões de pessoas vivem aqui, você pensa que tudo é concreto. Mas
quando você chega, vê um grande número de árvores, plantas e iniciativas para
que os consumidores cultivem alimentos em áreas urbanas. Isso é positivo.
O quão importante é o trabalho de
agritechs e foodtechs na recuperação de terra e produção de alimentos?
Esses empreendedores são muito poderosos, criativos, inovadores e cheios de
energia. Essas características são fundamentais para encontrar soluções para os
problemas. Nem todas pessoas e empresas têm essa mentalidade. Por isso, as
startups serão muito importantes para encarar esse desafio de produzir mais.
Como você acredita que serão as fazendas
do futuro?
A grande maioria vai ser de agricultura intensiva e de grande escala. No
Brasil, vocês já estão bastante dedicados à produção de soja e milho. Esse
processo vai continuar, mas teremos algumas mudanças na produção. Os vegetais,
por exemplo, vão ser cultivados nas cidades. Também haverá cada vez mais espaço
para produtores orgânicos e outros mercados de nicho. Acho isso muito
importante, pois ao mesmo tempo que a produção de alimentos vai se tornando um
desafio maior, os consumidores também ficam mais interessados em saber a origem
das coisas. Embora as pessoas vivam nas cidades, elas gostam da natureza e
sempre vão querer saber como está sendo o cultivo daquilo que consomem.
Afinal, vamos ter comida o suficiente
para todos em 2050?
Sim, nós vamos ter. A grande questão é se essa comida vai ser bem distribuída.
As técnicas de cultivo são controláveis, mas a política e os seres humanos não.
Estou muito preocupada com a situação na África, onde a população está
crescendo muito rapidamente, a terra está degradada e os efeitos das mudanças
climáticas são muito intensos. Lá haverá falta de comida. Em outras partes do
mundo, não. Então, teremos comida o suficiente, mas não no lugar certo.
Cada um dá a opinião que quer. Não há futuro em aumentar a produção. Para 2100 terá que se aumentar a um crescimento geométrico. Há alternativas. Controle de natalidade, porque não podemos crescer a esse ritmo. Controle dos desperdícios. Isto é meter a cabeça na areia, quando se diz que os países têm que plantar mais milho e soja. Mas estamos a falar de uma coisa que se chama Época negócios.
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