quarta-feira, 16 de setembro de 2020

TOTALMENTE ERRADO

"Teremos alimentos para todos em 2050. A questão é saber se eles serão distribuídos"

Ria Hulsman, gerente regional para América Latina da Universidade de Wageningen, veio ao Brasil em janeiro para participar do seminário Fruto (Foto: Leandro Martins/Fruto )

A população mundial deverá ser de quase 10 bilhões de pessoas em 2050. Para alimentar tanta gente, a produção de alimentos terá que aumentar 70%, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A grande questão é: conseguiremos atingir essa marca? Ria Hulsman, gerente regional para América Latina e Caribe da universidade holandesa de Wageningen, acredita que sim. “Nós já estamos produzindo muita comida e aumentando um pouco poderíamos alimentar todo mundo. Mas não é apenas uma questão técnica. É também política”.

Ria conversou com Época NEGÓCIOS e falou sobre os desafios de alimentar a população mundial, como serão as fazendas do futuro e revelou sua grande preocupação. "Estou muito preocupada com a situação na África, onde a população está crescendo muito rapidamente, a terra está degradada e os efeitos das mudanças climáticas são muito intensos. Lá haverá falta de comida. Em outras partes do mundo, não. Então, teremos comida o suficiente, mas não no lugar certo".

Estamos trabalhando na velocidade necessária para evitar a falta de alimentos em 2050?
Podemos olhar para essa questão com focos diferentes. Pensando tecnicamente, nós já estamos produzindo muita comida e aumentando um pouco poderíamos alimentar todo mundo. Mas não é apenas uma questão técnica. É também política, de economia e poder. Todos esses fatores resultam em um problema de má distribuição e influenciam nessa missão de alimentar o mundo em 2050.

O Brasil é protagonista para atender a demanda mundial por alimentos e terá que aumentar sua produção em 40%. Você tem visto trabalhos importantes acontecendo por aqui nesse sentido?
Sim, há alguns bons exemplos no Brasil de como você pode recuperar áreas degradas. Acho o trabalho da Embrapa muito importante. Essa organização tem feito muitas pesquisas em diversas partes do Brasil, inclusive, com fazendeiros. Além disso, vejo que aqui vocês estão cultivando alimentos em algumas áreas das cidades. São Paulo, por exemplo, é muito verde. Quando dizem que 12 milhões de pessoas vivem aqui, você pensa que tudo é concreto. Mas quando você chega, vê um grande número de árvores, plantas e iniciativas para que os consumidores cultivem alimentos em áreas urbanas. Isso é positivo.

O quão importante é o trabalho de agritechs e foodtechs na recuperação de terra e produção de alimentos?
Esses empreendedores são muito poderosos, criativos, inovadores e cheios de energia. Essas características são fundamentais para encontrar soluções para os problemas. Nem todas pessoas e empresas têm essa mentalidade. Por isso, as startups serão muito importantes para encarar esse desafio de produzir mais.

Como você acredita que serão as fazendas do futuro?
A grande maioria vai ser de agricultura intensiva e de grande escala. No Brasil, vocês já estão bastante dedicados à produção de soja e milho. Esse processo vai continuar, mas teremos algumas mudanças na produção. Os vegetais, por exemplo, vão ser cultivados nas cidades. Também haverá cada vez mais espaço para produtores orgânicos e outros mercados de nicho. Acho isso muito importante, pois ao mesmo tempo que a produção de alimentos vai se tornando um desafio maior, os consumidores também ficam mais interessados em saber a origem das coisas. Embora as pessoas vivam nas cidades, elas gostam da natureza e sempre vão querer saber como está sendo o cultivo daquilo que consomem.

Afinal, vamos ter comida o suficiente para todos em 2050?
Sim, nós vamos ter. A grande questão é se essa comida vai ser bem distribuída. As técnicas de cultivo são controláveis, mas a política e os seres humanos não. Estou muito preocupada com a situação na África, onde a população está crescendo muito rapidamente, a terra está degradada e os efeitos das mudanças climáticas são muito intensos. Lá haverá falta de comida. Em outras partes do mundo, não. Então, teremos comida o suficiente, mas não no lugar certo.


Cada um dá a opinião que quer. Não há futuro em aumentar a produção. Para 2100 terá que se aumentar a um crescimento geométrico. Há alternativas. Controle de natalidade, porque não podemos crescer a esse ritmo. Controle dos desperdícios. Isto é meter a cabeça na areia, quando se diz que os países têm que plantar mais milho e soja. Mas estamos a falar de uma coisa que se chama Época negócios.

  

Sem comentários:

Enviar um comentário