Uma imensa savana dourando ao sol
Ondulando em cada dia nos ventos setentriões
Um último raio de sol oblíquo, na despedida do dia
Um beijo roubado à pressa num momento fugaz
Uma lembrança inesquecível dobrada no tempo
Fotografias antigas acastanhadas de tantos anos
O voo rasante de um gavião em busca da presa
A carícia do vento de fim de tarde me abraçando
Farrapos de cacimbo pingando em manhãs friorentas
Rios de chegar e partir, carregados de memórias
A dor insuportável de ver subir quem não devia
A alegria de um dia de pesca no mar distante
Um poema de amor de Neruda, e uma canção de ninar
A certeza de que sempre haverá madrugadas
E mulheres e meninos ocupando a casa do meio
Um quarto longe do mundo e um abraço ternurento
Uma queda de água trovejando numa caverna
Uma fenda na montanha rachando o planeta
O olhar firme de uma gazela te mirando inquieta
Estar deitado na areia quente memorizando estrelas
Ouvir o bolero de Ravel numa noite de tempestade
E os lobos da memória rondando implacáveis
Minha terra, meu país, minha vida, meu amor
Lobito, 24.12.2020
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