quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

MINHA VIDA, MEU PAÍS

Uma imensa savana dourando ao sol

Ondulando em cada dia  nos ventos setentriões

Um último raio de sol oblíquo, na despedida do dia

Um beijo roubado à pressa num momento fugaz

Uma lembrança inesquecível dobrada no tempo

Fotografias antigas acastanhadas de tantos anos

O  voo rasante de um gavião em busca da presa

A carícia do vento de fim de tarde me abraçando

Farrapos de cacimbo pingando em manhãs friorentas

Rios de chegar e partir, carregados de  memórias

A dor insuportável de ver subir  quem não devia

A alegria de um dia de pesca no mar distante

Um poema de amor de Neruda, e uma canção de ninar

A certeza de que sempre haverá madrugadas

E mulheres e meninos ocupando a casa do meio

Um quarto longe do mundo e um abraço ternurento

Uma queda de água trovejando numa caverna

Uma fenda na montanha rachando o planeta

O  olhar firme de uma gazela te mirando inquieta

Estar deitado na areia quente memorizando estrelas

Ouvir o bolero de Ravel numa noite de tempestade

E os  lobos da memória rondando implacáveis

Minha terra, meu país, minha vida, meu amor


Lobito, 24.12.2020

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