segunda-feira, 27 de abril de 2020

COISA DA MINHA TERRA




COISAS DA MINHA TERRA

O meu genro publicou o que se segue.

"Fui uma vez a África e aprendi logo.
O mais velho é sábio. Tem prioridade. É acarinhado pelos mais novos que o vão logo buscar.
"Mais velho por favor passa na frente". "Precisa de alguma coisa ó mais velho?". Diz só que a gente trata.
Não falha. Não é lei. É muito mais forte que isso. É um bem cultural por cima da lei. E nós aqui é que estamos errados. Cheios de escolas, e tão mal educados. Não consigo perceber isto. Fui lá uma vez e aprendi logo. Angola com tanto problema, tem um povo bem educado nessa lei tão importante da vida. O mais velho é o bem mais importante da aldeia. O primeiro a ter protecção de todos e o último a dispensar. É que se correr mal, o "mais velho" é lá preciso para ensinar a resolver. Com o que se fala para aí, não querem parar um bocado para pensar nisto?
Mandasse eu alguma coisa e ia tanta gente para o fim da fila! Não é por nada... É só porque eu fui a África e aprendi logo. E tenho saudades dos "mais velhos" que lá conheci e que estão à espera de uma visita outra. Já estou pronto para a próxima lição".

Pois bem Manel, gostei muito, além do mais porque é genuinamente verdade. Posso afirmá-lo na primeira pessoa, porque me acontece todos os dias.
Mas, as coisas não terminam aqui.
Seja onde for, seja com quem for, independente de qualquer classe social, aqui toda a gente se cumprimenta. Bom dia, ualali.
E sempre há uma de várias respostas: bom dia, obrigado, ou está bem.
Aqui toda a gente repara é se não cumprimentarmos, e a carga negativa é visível.
Esta pode de facto ser a tua segunda lição. Haverá muitas mais, porque os "mais velhos" também têm saudades vossas.
Abraço







sexta-feira, 24 de abril de 2020

BURRICE TEM LIMITE... OU BOLSONARO NO SEU MELHOR

BURRICE TEM LIMITE!!!
 
 
E não há uma alma piedosa que proceda ao internamento compulsivo deste doido.
As declarações públicas prestadas em 23.04.2020, são suficientes para fazer isso.
 
 "Eu estou a responder num processo dentro e fora do Brasil, sendo acusado de genocídio por ter defendido uma tese diferente da OMS. O pessoal fala tanto da OMS, o diretor da OMS é médico? Não é médico. É como se o presidente da Caixa [instituição financeira brasileira] não fosse alguém da economia. Não tem cabimento".

 
"Eu não tenho números, mas entre o Brasil e um país pobre de um outro continente, africano por exemplo, a expetativa de vida é maior aqui ou no Zimbabué? É maior aqui. Porque temos mais rendimentos per capita aqui. Então, se os nossos rendimentos caírem, a morte chegará mais cedo".

Tenho a certeza absoluta que este idiota não sabe nem onde fica o Zimbabwe. Só assim, se atreve a comparar o Brasil com esse país. Deveria comparar-se com a América Latina, mas não lhe deve convir, porque o rendimento "per capita" por exemplo, da Argentina que não está económicamente bem  é o dobro da dos brasileiros.

Brasil no mundo: até Porto Rico e Trinidad e Tobago estão melhores. E isto em 2016. Não me consta que o Brasil tenha melhorado depois disso.

lista dos 40 países com maior renda per capita em poder de paridade de compra (ppp)

 


terça-feira, 21 de abril de 2020

NAUFRÁGIOS


NAUFRÁGIOS
Pele sedosa
Olhos  castanhos, febris
Vagueando na imensa savana adiante
Dentro, naufrágios incontáveis
Irrecuperáveis
Velhos barcos repousando no fundo
Nunca esquecidos
Nunca adormecidos
No que poderia ter sido e não foi
Esquecidas as velhas artes marinheiras
Vida pendurada num varal, ao sol
Secando o que já está seco
Sem coragem nem saber
Para dominar os ventos e marés .
 
Lobito, 21.04.2020

quarta-feira, 1 de abril de 2020

TEMPO DE RIOS


TEMPO DE RIOS

Este é um tempo de rios engrossando margens
Tempo de esvaziar os depósitos do céu
E de saciar a sede da terra
Amaciar os solos gretados e selvagens
E deixar o pó assentar na abundancia liquida
É o tempo de preparar sementes e vagens
Libertar enxadas e charruas
Deixar que façam o trabalho sempre ansiado
E na cama preparada deita-se o fogo da vida
Latente, ardendo sem pressas, num tempo novo
Tempo de meninos comboiando gados e brincadeiras
De noite há fogueiras de contar tantas histórias
E sorrisos cúmplices por tantas outras já contadas
Lavrar, plantar  já ficaram para trás
Amanhã, colher-se-à tudo o que a terra prometeu
Será tempo de festas e fogueiras
De tchinganges e agradecimento a todos os deuses
De sons e vozes doces que não magoam.

Lobito, Novembro 2019

GUERREIROS E HERÓIS


GUERREIROS E HERÓIS

Está na moda.

Agora todos os dias batem palmas ao fim da tarde, todos se apressam nas malditas redes sociais a dar a sua opinião sobre guerreiros e heróis, todos os líderes políticos apanham este barco, todo o mundo aproveita para dizer o quão gratos estão ao pessoal da saúde.
Para uns é evidente a procura de dividendos actuais e futuros. Para outros basta a notoriedade fugaz nas notícias, e poderem dizer daqui a uns anos que estiveram nesta luta, como se tivessem ido a uma qualquer guerra.

Mas afinal onde esteve esta gentinha toda, nos últimos quinze anos?
Eu sou médico, fiz a minha carreira toda nos Hospitais da Universidade de Coimbra, e não me lembro de alguma vez o povo português ter dito bem do seu sistema de saúde. Também não me lembro de ver ninguém defender o SNS, enquanto ele laboriosamente e encapotadamente foi sendo destruído ao longo dos anos. E na verdade, os únicos resistentes foram mesmo os profissionais no terreno. Essa sim, tem sido uma guerra sem benefícios próprios, em nome do povo português que somos todos nós, sempre, e não apenas quando nos convém.

Parem de nos chamar heróis. Lembrem-se que até muito recentemente nós eramos na vossa boca uma classe cheia de privilégios, que auferia ordenados milionários e que estava acima da lei. Tenham vergonha do que estão a fazer.
Os médicos e restante pessoal da saúde não precisam de incentivos para dar o seu melhor, não apenas agora mas sempre. Apenas necessitam que os respeitem como a qualquer outro profissional e que os deixem em paz para fazer o que tem de ser feito.

Os mesmos jornalistas que hoje cantam hinos a esta classe, serão os mesmos que depois virão à procura de assassinar qualquer médico que por qualquer razão se torne visível.
Basta olhar para a pobreza do jornalismo existente nas conferências de imprensa com o pessoal da saúde. Pobre demais ver estes jornalistas bacocos que foram ensinados a procurar a árvore em vez da floresta. É pobre que a notícia tenha de ser, a Directora Geral de Saúde a levantar-se e a morder um jornalista. Eu já o teria feito.

O corona vírus como qualquer guerra traz à tona o melhor e o pior do ser humano, e o que temos visto à exaustão, porque este jornalismo actual, todas as “fake news”, todas as redes sociais são propícias a isso, é verdadeiramente o pior de todos nós.
Atenção “jornalistas”. Vem aí uma janela de oportunidade pós corona vírus, e pressinto que os governos todos e o nosso em particular estarão já atentos e nervosos. Nada mais será como dantes, e creio que pela primeira vez, a classe médica irá impor as regras de funcionamento e não se deixará mais dominar por aqueles que nada percebem de saúde e cuja visão apenas assenta em números e contas de somar ou de sumir.

Finalmente, perdoem-me os verdadeiros jornalistas e toda a gente de boa vontade, mas estou seguro que sabem que estas palavras de desencanto não lhes são dirigidas.