Olupito: um olhar à história da cidade com 106 anos
Jaime Azulay
Para agravar a situação, o seu clima severo tornou-a indesejável aos forasteiros, chegando a ser apelidada de “cemitério dos europeus”. No ano de 1842 D. Maria II assinou as portarias régias que ordenaram a deslocação da capital de Benguela para uma zona mais aliciante, precisamente onde hoje se situa o Lobito, mais favorável para a criação de pólos urbanos, limitada por morros, baixa e quebra-mar (a restinga).
Devido á sua implantação urbanística e desenho arquitectónico, o Lobito
representa um caso “sui generis” em Angola. O núcleo mais representativo e mais
antigo da cidade é a conhecida restinga. Trata-se de um cabelo de areia virado
para o Norte e com uma extensão de 2,5 km. Entre a restinga e o continente,
encontra-se uma baía totalmente abrigada, onde se construiu o “Porto do
Lobito”, considerado porto oceânico de primeira classe e um dos mais
importantes da costa ocidental africana.
A restinga é a parte velha da cidade. O seu perfil arquitectónico denota a
indisfarçável presença colonial portuguesa. O património imobiliário inclui,
igualmente, exemplares únicos da chamada “arte-nova”. Noutros edifícios
antigos, facilmente se vislumbra a influência dos mestres ingleses, que, no
início do século XX, estiveram envolvidos na construção do Porto e dos
Caminhos-de-Ferro de Benguela (CFB).
Desde cedo a expansão do pólo urbano da restinga ficou condicionado pela
limitação de espaço. A cidade tinha crescido até onde o obstáculo natural
lhe permitiu. Depois, sucedeu a conquista da zona oposta à da Restinga. Nasceu
assim o Bairro do Compão, a partir de um acampamento destinado ao pessoal que
labutava nas obras de construção do Porto e mais tarde dos CFB. O aglomerado de
barracas era designado pelos engenheiros e outros técnicos ingleses por
“Compound”. A palavra (que significa “composto”, na tradução à letra, foi
“aportuguesada” pelo pessoal angolano para “Compão”. E assim permanece até
hoje.
Alguns pesquisadores consideram o Lobito “Cidade Sem Historia”, em comparação à
vizinha Benguela, fundada nos alvores da colonização portuguesa, por Miguel de
Cerveira Pereira. A criação do Lobito é atribuída a uma portaria de 2 de
Setembro de 1913. Contudo, muitos investigadores refutaram a tese. O arquitecto
e urbanista Castro Rodrigues refere, num estudo que, muito antes dessa data, já
os povos locais conheciam esta baixa alagada, chamando-a de “olupito”,
designação da língua ovimbundo que significa “passagem”, “caminho”,
“passadeira”.
“Olupito” era itinerário obrigatório das caravanas oriundas do interior para o
litoral de Benguela, a fim de praticarem o comércio de escravos, cera e
borracha com os portugueses. De “Olupito”, nasceu o nome da cidade que tem toda
a sua existência ligada ao mar. Foi o mar, a porta para o mar, que definiu o
pólo urbano muito antes das portarias regias e dos decretos de D. Maria II.
Sem comentários:
Enviar um comentário