sexta-feira, 28 de agosto de 2020

LOBITO

 

Olupito: um olhar à história da cidade com 106 anos

Jaime Azulay

 Em meados do século XIX, o florescimento de Benguela parecia ter chegado a um beco sem saída. A velha “Cidade Mãe das Cidades” enfrentava um período de estagnação resultante da conhecida crise nas matérias-primas de exportação, como a cera e a borracha, à qual se juntou o fim do comércio de escravos.

Para agravar a situação, o seu clima severo tornou-a indesejável aos forasteiros, chegando a ser apelidada de “cemitério dos europeus”. No ano de 1842 D. Maria II assinou as portarias régias que ordenaram a deslocação da capital de Benguela para uma zona mais aliciante, precisamente onde hoje se situa o Lobito, mais favorável para a criação de pólos urbanos, limitada por morros, baixa e quebra-mar (a restinga).

Devido á sua implantação urbanística e desenho arquitectónico, o Lobito representa um caso “sui generis” em Angola. O núcleo mais representativo e mais antigo da cidade é a conhecida restinga. Trata-se de um cabelo de areia virado para o Norte e com uma extensão de 2,5 km. Entre a restinga e o continente, encontra-se uma baía totalmente abrigada, onde se construiu o “Porto do Lobito”, considerado porto oceânico de primeira classe e um dos mais importantes da costa ocidental africana.
A restinga é a parte velha da cidade. O seu perfil arquitectónico denota a indisfarçável presença colonial portuguesa. O património imobiliário inclui, igualmente, exemplares únicos da chamada “arte-nova”. Noutros edifícios antigos, facilmente se vislumbra a influência dos mestres ingleses, que, no início do século XX, estiveram envolvidos na construção do Porto e dos Caminhos-de-Ferro de Benguela (CFB).
Desde cedo a expansão do pólo urbano da restinga ficou condicionado pela limitação de espaço. A cidade tinha crescido até onde o obstáculo natural lhe permitiu. Depois, sucedeu a conquista da zona oposta à da Restinga. Nasceu assim o Bairro do Compão, a partir de um acampamento destinado ao pessoal que labutava nas obras de construção do Porto e mais tarde dos CFB. O aglomerado de barracas era designado pelos engenheiros e outros técnicos ingleses por “Compound”. A palavra (que significa “composto”, na tradução à letra, foi “aportuguesada” pelo pessoal angolano para “Compão”. E assim permanece até hoje.
Alguns pesquisadores consideram o Lobito “Cidade Sem Historia”, em comparação à vizinha Benguela, fundada nos alvores da colonização portuguesa, por Miguel de Cerveira Pereira. A criação do Lobito é atribuída a uma portaria de 2 de Setembro de 1913. Contudo, muitos investigadores refutaram a tese. O arquitecto e urbanista Castro Rodrigues refere, num estudo que, muito antes dessa data, já os povos locais conheciam esta baixa alagada, chamando-a de “olupito”, designação da língua ovimbundo que significa “passagem”, “caminho”, “passadeira”.
“Olupito” era itinerário obrigatório das caravanas oriundas do interior para o litoral de Benguela, a fim de praticarem o comércio de escravos, cera e borracha com os portugueses. De “Olupito”, nasceu o nome da cidade que tem toda a sua existência ligada ao mar. Foi o mar, a porta para o mar, que definiu o pólo urbano muito antes das portarias regias e dos decretos de D. Maria II.

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